clonagem

(nota prévia: este blog merece uma musiquinha: escolha entre Zarathustra e Danúbio Azul - e retorne ao texto com back)

Estudante na antiga Faculdade Catarinense de Filosofia, fundada por Henrique Fontes, na bucólica Florianópolis do início dos anos sessenta, lembro-me de ter lido na revista Rasegna Médica, do laboratório Le Petit, um artigo sobre as experiências de um geneticista italiano que fazia pesquisa de fertilização in vitro. A notícia dizia que esta tecnologia já estava dominada e anunciava a possibilidade técnica de geração de um ser humano fora do útero materno.
Por essa época, tomei contato com a teoria evolucionista, através de Eudoro de Souza, helenista famoso, misto de filósofo e arqueólogo. Enfatizava ele de forma dramática que o homem era o único animal a contrapor o polegar ao plano da mão, fato que marcava o momento da transcendência da natureza para o reino da cultura. Essa mesma idéia, aliás, foi explorada depois por Stanley Kubrick no filme 2001: Uma odisséia no espaço, lançado em1968, numa das cenas antológicas da história do cinema. Um macaco apanha uma tíbia e a arremessa para o alto. O osso transforma-se numa nave que sai deslizando pelo espaço ao som de Zaratrusta, de Wagner.


Pouco depois, tomei contato com Lesley White e sua Culture Evolution, defendendo a tese da evolução humana como conseqüência da capacidade do homem de apropriar-se da energia e de transformá-la em benefício próprio, processo esse que tem início com a descoberta do fogo e passa pela explosão da primeira bomba atômica em 1945. As revoluções seguintes seriam justamente a da informática, as viagens espaciais e a decifração do código genético.
Coloco isto a propósito da discussão atual sobre clonagem de seres humanos, trazendo de volta com toda a força a teoria evolucionista, e o debate em torno das idéias do biólogo inglês Richard Dawkins, seu mais polêmico divulgador. No livro O gene egoísta (1976) ele traz algo novo e assustador para quem ainda tem o gênero humano como o centro da criação, ao expor a tese de que "somos máquinas de sobrevivência - veículos robô programados" para replicar o gene, a molécula de DNA, e lança a idéia de que um novo replicador nasce no caldo da cultura humana. Ele chama a unidade de transmissão cultural ou de imitação, esse novo replicador, de meme. (Dawkins, 1976 p. 214) Quais são as implicações sociais e políticas dessa tese? Qual o espaço reservado à teoria evolucionista darwiniana nos currículos dos nossos cursos de ciências sociais?



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