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FH: Sobre incerteza e sucessão





O quadro de instabilidade está criado no mundo. Ainda que o Brasil pudesse enfiar a cabeça no buraco como avestruz, não escaparia dos efeitos econômicos que acabarão afetando também a política interna. Em avaliações preliminares, o presidente FH tem dito que a turbulência internacional pode levar o eleitor a um voto mais conservador, buscando segurança num governo já testado.





Mais objetivamente, FH tem dito em conversas reservadas e prospectivas que o governo pode ser eleitoralmente beneficiado pelas circunstâncias mundiais produzidas pelos ataques terroristas aos EUA. Espera dos candidatos governistas a percepção dessa nova variável e um posicionamento mais afirmativo e ousado. Em toda eleição o eleitor é movido por um sentimento predominante, tem dito FH. A esperança de que o Real trouxesse o fim definitivo da inflação elegeu-o em 1994. Na reeleição, em 1998, prevaleceu o medo da mudança no curso de uma crise externa, e esse sentimento, ele acredita, pode ser novamente decisivo em 2002, se ainda for grande a névoa sobre o futuro. Quando o mundo externo sai da ordem e mergulha no insondável, tem dito FH nessas conversas, é natural que as pessoas troquem o sentimento mudancista por um comportamento mais conservador, que prefiram manter no poder um governo já conhecido a trocá-lo por uma experiência nova. Em miúdos, o eleitor propenso a votar em Lula ou outro candidato da oposição pode refluir para o apoio ao candidato governista, apostando na vantagem do continuísmo para lidar com a nova situação.





Nesse quadro, diz ainda, fica mais difícil para a oposição culpar unicamente o governo pelos problemas internos. E será mais fácil demonstrar ao eleitor que os governos locais estão sujeitos ao balanço do mundo, e não apenas à vontade de acertar.





Falando especificamente do candidato governista, o presidente já é claro ao dizer que as opções agora se restringem, no PSDB, ao ministro Serra e ao governador Jereissati. Mas adverte que se Roseana Sarney, do PFL, continuar crescendo e demonstrar capacidade de unir a aliança, seu nome deve ser levado em conta. Assim como algum nome do PMDB, como o do governador Jarbas Vasconcelos. Como pedir o voto dos aliados se eles tiverem um candidato mais bem situado?





Ocorre, diz ainda, que todos esses presidenciáveis governistas não se têm apresentado de corpo inteiro como tal. E não está sugerindo apenas que façam uma defesa mais firme e candente do governo, mas que transcendam de seus campos específicos de ação, apresentando idéias mais gerais ao país, sobre o conjunto de problemas que dizem respeito ao futuro. Não basta ser um bom ministro, diz ele, há muitos bons ministros no governo. Há também alguns bons governadores. O que Serra e Tasso têm como diferencial é a força política dentro do PSDB. Mas o país quer saber não apenas o que pensam sobre saúde ou a questão do Nordeste. Precisam dizer o que pensam da dívida externa, das privatizações ou mesmo do que está se passando lá fora. Quem tem feito isso, diz ainda, é o o ministro Pedro Malan, e por isso é lembrado como candidato. Mas como não o será (já o diz também claramente), cabe aos que têm chance fazer o mesmo.





Aqui, um parênteses: o presidente sabe que tanto Serra como Tasso evitam alguns temas, sobretudo os relacionados com a política econômica de Malan, para não explicitar divergências que não lhes convêm, nem ao governo, ver escancaradas, pelo menos hoje.





Essas projeções que animam o presidente hoje têm produzido preocupação simétrica na oposição, que antevê e receia os efeitos eleitorais da incerteza. Com a ressalva de que faltam ainda 13 meses para o pleito e até lá o mundo pode reencontrar o eixo da normalidade, apesar dos efeitos econômicos.Salvação pelo atalho





Os governistas tentam votar hoje a inclusão dos recursos do Fust no PPA, tema que a oposição vêm obstruindo há três semanas. Mas para aprovar o substitutivo do relator Santos Filho (PFL-SC), talvez tenham que aceitar a recomendação de que os 290 mil computadores a serem comprados com tais recursos para as escolas usem preferencialmente o sistema Linux. Um atalho que pode livrar o governo da criticada opção da Anatel e do MEC pelo Windows, da Microsoft. Mas isso o obrigará a mudar o edital, já suspenso por liminar concedida aos deputados Sérgio Miranda (PCdoB-MG) e Walter Pinheiro (PT-BA), argüindo a não inclusão dos recursos no PPA e a estranha exclusão de outros concorrentes, exceto as quatro operadoras de telefonia comutada, que, por sinal, não vendem nem fabricam computadores.Contra a invocação do Tiar





O Tratado do Rio, o de Integração e Assistência Recíproca (Tiar) entre membros da OEA, foi desenterrado pelo Itamaraty para convocar uma reunião do organismo e tomar uma posição conjunta em relação à reação americana aos ataques sofridos. Um presidente conservador como o mexicano Vicente Fox o considera uma sucata sem valor da Guerra Fria, diz o deputado petista Milton Temer, que hoje propõe à Comissão de Relações Exteriores da Câmara uma condenação ao recurso.





— A OEA é subalterna dos EUA. Já demos o necessário apoio político. O que devemos provocar é a ONU, que é o organismo para a construção da paz — diz Temer.





Mas os EUA querem mais. Apoio militar como tradução de apoio político irrestrito e inequívoco.







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