Mecanismo de busca também pega blogger


Ando pesquisando sobre “riscos”. O tema virou moda depois que o sociólogo e assessor do primeiro ministro inglês, Antony Giddens, escreveu sobre os riscos da modernidade. Se você pensou que ando a perigo, acertou. Meus prazos estão estourando e a saúde, para não me tornar dramático, já foi bastante melhor. Afinal, envelhecer é a coisa mais natural do mundo, já dizia alguém que gosta de abusar dos lugares comuns e das palavras que consolam.
Usando o cadê, heis que me deparo com o Blog do Rogério Macedo, de Fortaleza, Ceará, "Rogério Prado - Riscos e Rabiscos. Weblog com comentários sobre política, atualidades, comportamento, livros e governo." Esta é a primeira vez que vejo referência ao blog em relatório dos buscadores e não resisti à curiosidade de ver do que se tratava. Ele foi pescado, imagino, pela palavra risco contida no título. Me chamou a atenção, entretanto, não o “risco” mas uma referencia à arte de escrever. Ai vai o registro da
Segunda-feira, Maio 28, 2001 ::
Homo economicus
Hoje é moda cortar adjetivos e advérbios. A escrita enxuta é cultuada, algo como uma exigência da era da velocidade. O texto deve ser feito para o sujeito que vai ao MacDonalds comer um sanduíche sem gosto somente porque lá é servido em cinco minutos.
Essa exigência de uma escrita de frases curtas favorece, claro, o sujeito que não sabe escrever. Não que todos que escrevam, digamos, de forma menos rebuscada sejam maus escritores. O Kafka está aí para demonstrar o contrário. Mas é moda falar mal de quem use advérbios e adjetivos, de quem estenda os períodos através dos conectivos (e como é difícil usá-los) que nosso idioma oferece. Repito: nem todos que escrevem contidamente são maus escritores. Mas nenhum mau escritor sabe escrever, por exemplo, como Augusto dos Anjos, que distribui as palavras pelo texto com perfeita harmonia e sem qualquer preconceito quanto às classes. Veja abaixo.
Versos íntimos
(Augusto dos Anjos)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que nesta terra miserável
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja esta mão vil que te afaga,
Escarra nesta boca que te beija!

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