Outra vez

Estamos em clima de festas natalinas. A cidade toda enfeitada com o indefectível “Papai Noel” subindo nos telhados (há pessoas que exageram: colocam vários), inúmeros "jantares de final de ano", votos de paz e renovação de propósitos. O velho ritual se repete, fazendo-me lembrar dois ensaios de E. R. Leach sobre a representação simbólica do tempo, publicados no livro Repensando a Antropologia (Ed. Perspectiva, 1974). No primeiro, ele defende a tese de que o tempo no imaginário dos gregos do período clássico era um processo temporal em ziguezague, onde o começo da vida é também o começo da morte. No segundo, ele expõe a tese de que as festas e rituais (ano novo, carnaval, etc.) são marcadas por três tipos de comportamento: 1. formalidade; 2. mascarada; 3. inversão de papéis. Uma festa que começa com formalidade, como um casamento, por exemplo, pode terminar em baile à fantasia. Um ritual que começa com mascarados e inversão de papéis (como o carnaval) pode terminar em formalidade (quarta-feira de cinza e jejum). A tese de Leach é que esses tipos de comportamento devem ser vistos em conjunto, pois tem um sentido lógico independente da época ou cultura. As fases representam a passagem do secular para o sagrado; “o tempo normal parou, o tempo sagrado é representado às avessas, a morte é convertida em nascimento.”(p. 209).
Toda essa teoria, contudo, apenas explica o clima de compaixão que nos invade e é pouco para suavizar certa nostalgia surgindo da certeza de que o tempo passou independente da sinalização para começar tudo de novo.

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