Xador: aí está o busílis
O Xador, segundo o Aurélio, é uma "veste feminina, usada no Irã, e que vai da cabeça aos tornozelos, deixando de fora apenas os olhos.". Semelhante ao nosso xaile ou xale, "espécie de manta, em geral de lã ou de seda, com que as mulheres cobrem e agasalham os ombros e o tronco, e às vezes a cabeça:" (idem). Uma variação do xador é o burqa usada no Afeganistão, que cobre toda a cabeça, trazendo um quadrado de tela à altura dos olhos e do nariz para permitir que a mulher enxergue e respire.
Como a marcar essa diferença da posição da mulher nas culturas islâmica e cristã, o casal caminha pelo gramado da residência oficial, ambos na direção de algo que não se sabe bem o que é, mas que pode ser um helicóptero ou uma coletiva. Ele de paletó aberto, a passo de marcha, um pouco a frente; ela vestindo um tailleur onde uma calça comprida substitui a saia, na tentativa de aparentar descontração e confiança. Contudo, observando atentamente a mulher, nota-se um certo recato e timidez na inclinação da cabeça ao desempenhar o papel, revelando ser alguém que, decididamente, jamais sentiu a ponta da língua no botão. Nisso os dois lados se tocam. Mas fica uma dúvida: se por baixo do xador e do burqa não acontecem loucuras.
É o que a novela das oito está tentando mostrar quando revela a intimidade do casal Mohamed e Natifa.
As novelas brasileiras, com raras exceções, são ambientadas no País, embora possam ter um ou dois capítulos rodados no exterior. Na atual novela das oito a Globo parece estar prolongando a permanência dos personagens no Marrocos e não é de duvidar que fiquem lá mais tempo. A produção deve ter sido definida antes do atentado terrorista de 11 de setembro e agora os rumos da história são impremeditados.
A idéia deste blog me veio de uma crônica de Roberto Pompeu de Toledo "Em torno do Xador", publicada na Veja, em 17 de outubro, 2001, p. 174. onde ele coloca que "No atual momento de barbárie e de guerra, concentremo-nos no xador. Ou melhor, no que existe dentro dele. Procuremos a mulher. Eureca! Eis a chave de tudo! Está ali, no modo de encará-las e conceber o papel que lhes cabe, um dos pontos centrais - não, o ponto central - da divergência entre as duas concepções de mundo que se chocaram, primeiro nos céus de Nova York e, agora, nos do Afeganistão."
Como podem ver, não estou tão seguro de que no mundo ocidental a relação de gênero e o papel da mulher seja uma coisa resolvida.

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