ZICO

Hoje é o aniversário do Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Quem é esta pessoa? Sim, a pergunta pode parecer inútil. Craque de futebol, ótima pessoa, profissional ao máximo, seriedade, etc.
Para mim é muito, muito, muito mais que isto: é a pessoa que influenciou, sem claramente sabê-lo, a minha inteira vida. Passaram quase 23 anos, daquela primavera - início de verão (na Itália) de 1980. Eu, menino de pouco menos de 11 anos, estava vendo a TV. TV a cores, que apareceu há pouco tempo na minha casa: ainda lembro quando chegou. Que alegria que me deu! Naquela época só um meu parceiro de escola que morava perto de mim tinha a televisão a cores, pelo menos das pessoas que eu conhecia e frequentava.
Estava vendo "cartoons" japoneses, aquele de monstros que combatiam os extra-terrestres, que eram na moda. Mas estava cansado de vê-los e mudei de canal (com o "telecomando", uma invenção grandiosa que permetia de mudar os canais mesmo sendo sentados longe da televisão!! Agora parece normal, mas então...): encontrei um jogo de futebol numa pequena televisão local. Mas...nomes estranhos, times desconhecidos...América? Vasco de Gama? Mistério! O mistério do "de" entre Vasco e Gama desapareceu, por sinal, só cerca de sete anos depois, quando aprendi que o "de" era na verdade um "da". Fiquei curioso, também porquê o comentarista (hoje na RAI, televisão estatal italiana) era um vulcão, sobretudo no momento do gol. Fiquei torcendo pelo time com o nome mais simples e camisa vermelha, porquê o outro era branco com faixa preta, cores dos quais, no futebol, não gosto muito. E parecia que tava tudo bem: 1x0 América no intervalo. O jogo acabou em 3x1 pelo Vasco, mas fiquei muito feliz pra ver aquele jogo: por sinal, era uma "sintesi", como se diz na Itália. Cinquenta minutos mostrando os melhores momentos. Mais: aqueles jogos poderiam ser realizados também anos antes! Isso só descobri depois, mas gostei mesmo assim. Comecei a procurar estes jogos naquele canal, e poucos dias depois encontrei o segundo jogo. Ainda nomes desconhecidos, mas...Sim, sim! O estádio era o mesmo! Como é que se chamava? Mar...Marac...Maracanà!! (Vejam algumas linhas anteriores pelo momento que descobri que o final era "ã"). Este deveria ser um jogo mais interessante: quanto público! Vamos ver as camisas: NÃO!! COMO? Eu, interista (Inter de Milão, preta e azul), tenho que ver um time em branco e prêto como a odiada Juventus italiana? Como é que se chama o time? Alguma coisa a ver com o fogo...será que vai queimar? Ah....Botofogo...Certo é que vou torcer pelo outro time...AHHHHH! Não é possível! O outro é rubro-negro, como o rival Milan! Não, não, não...Não é o meu dia!! Bom, a camisa é listrada em horizontal...a do Milan é em vertical...vamos torcer pelo....como é que se chama? Flamengo? Que nome estranho: tá bom assim mesmo...E o jogo começou...GOOOOOOLLLL! O Flamengo fez gol....nããão: anularam. Quem era o autor? Tijão ou uma coisa parecida...Final do primeiro tempo: 0x0. E, amigos leitores, foi no segundo tempo que Deus ou quem por ele, decidiu qual era o meu interesse na vida, decidiu o meu destino: não é nenhum exagero. Se hoje estou por aquí escrevendo (e aborrecendo muitos de vós!) num idioma que não é o meu, que aprendi sozinho; se hoje posso falar bastante da cultura brasileira e na Itália escrevo numa revista pela divulgação da cultura brasileira na Itália e não só; se hoje posso escrever e ser hospede do amigo Nêodo pelo qual um dia tive que aprender sobre a FEB muitas coisas indo em lugares não longe de mim mas pra mim desconhecidos; se hoje posso agradecer o mesmo Nêodo do espaço que me dá por aquí me fazendo conhecer a vocês. Bem, tudo isso e MUITO, MUITO, MUITO mais, tem uma só razão. O número 10 com aquela camisa rubro-negra, vai perto da grande área com muita velocidade: poderia tabelar com um companheiro, chutar de fora, entrar na área, driblar o goleiro....nada disso: Entrou na grande área e, diante do goleiro, fez um GOLAÇO encobrindo, espero que se diga assim, o goleiro botafoguense. Eu, menino, fiquei de olhos arregalados, se é que se usa dizer assim. O nome...ah! Isso é fácil e curto: ZICO. Daquele dia muitas águas rolaram: muitas felicidades tive, assim como muitas tristezas. Mas o único companheiro que sempre tive comigo, sob qualquer forma, foi o Brasil. Tudo, começando daquele EXATO instante. Zico tornou-se o único ídolo da minha vida: aquele pelo qual se para de comer se aparece na televisão ou que faz cortar os jornais pra ter mais fotos possíveis.
Agora, é claro, não tenho mais ídolos: coisas de meninos...Mas o Zico foi pra mim aquele jogador que era também e sobretudo uma ótima pessoa na sua privacidade. No primeiro ano na Itália (lembro que surpresa tive ao saber que ia na pequena Udinese) eu estava mais interessado ao time...alvinegro (!) do que na minha Inter: lembro o pênalty perdido contra a França no mundial de 1986, os gols no do 1982, o seu último jogo pelo Fla, quando pegou a bola ao ser substituido para voltar ao vestiário e eu, mesmo com vinte anos, quase chorando pela comoção. Como agora: de tanto falar estou me comovindo. Porquê lembrando o Zico, lembro a minha vida, boa parte dela. Na verdade não sei se posso dezer "graças" ou "por culpa" do Zico sou assim: porquê não é fácil ter um interesse assim forte por um País tão longe. Não...não vejam agora com a internet: tem que pensar ao passado, quando ter uma notícia do Brasil era puro milagre! Acho que me isolei demais, mesmo tendo amigos. É que me acho "casado" com a Terra Brasilis que muitas vezes por ela tive que sacrificar boa parte dos outros interesses. Agora está bom, pelo simples fato que estou "divulgando" a minha pessoa por aquí e não só: posso dizer que estou vendo os frutos desta paixão. Mas antes eu não sabia onde eu poderia chegar, onde chegar e se chegar. Por isso quero enviar uma mensagem a quem tem interesses mas não sabem se continua-los a ter porquê é sacrifício demais: continuem, amigos, têm que crer em aquilo que vocês fazem. Haverá tempos em que tudo vai parecer inútil, tempo perdido: mas não é assim. Seria assim se vocês vão abandonar o "projeto" pelo qual vocês nasceram. Quem foi que decidiu pra mim este rumo? Eu acredito em Deus, mesmo se às vezer desconfiei: mas antes de tudo tem que acreditar em si mesmos, acreditar no próprio trabalho, SEMPRE. E nos momentos maus, pegar fôlego, pra depois trabalhar ainda mais duro: os resultados têm que vir e se pora acaso não aparecem, não tem que se abater. Vocês fizeram todo o possível e o que aprenderam não foi pra nada. Eu, por exemplo, nos últimos dois anos vi os frutos disso: mas não cheguei a nada. Tenho ainda muito a fazer, aprender, vencer, perder. Não sei onde vou, mas espero de poder fazer um bom trabalho tanto pra mim quanto, mais importante, pelos outros.
E mesmo este longo post, escrevi porquê um dia do ano 1980, por acaso, vi um jogo de futebol.

Parabéns, Arthur Antunes Coimbra: você pra mim é muito mais que um craque de futebol.

Alessandro.

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