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Mostrando postagens de dezembro, 2025

Amor Hacker — três décadas até "nós"

Quando parti de Cuiabá para Porto Velho, atendendo ao convite de meu irmão, eu estava numa situação franca de penúria — financeira e, sejamos honestos, também existencial. Trabalhava na Rádio Vila Real; o ano era 1987, se a memória ainda não estiver me sabotando. Larguei o emprego e fui. O futuro? Um conceito abstrato. Bora para mais uma aventura. A estrada não me era estranha. Já havia passado um tempo na divisa com o Paraguai, em Ponta Porã; servido na Marinha, no Rio de Janeiro; puxado boi magro de Cidade Jardim, no Mato Grosso do Sul, até Paranavaí, num caminhão boiadeiro. Eu já estava na vida. Quem sabe ali poderia dar certo. Porto Velho me recebeu sem promessas, mas com trabalho. Primeiro, locutor na Rádio Nacional, sem vínculo, mas com algum dinheiro entrando. Depois, Souza Cruz. Logo em seguida, troquei por outro emprego — nem melhor, nem pior — numa empresa de produtos farmacêuticos. Foi ali, como propagandista, que a vida começou a se mover de verdade, como se alguém tivesse ...

Ajustando o Tempo: 33 Anos de Espera

O texto que segue nasce inspirado no estilo do cordel, essa forma de poesia popular que carrega ritmo, memória, musicalidade e alma. Antes de chegar aos versos propriamente ditos, preciso dizer que o encanto que o cordel provoca em mim não veio de livro didático nem de explicação acadêmica. Veio da estrada. Veio das minhas andanças por esse Brasil de meu Deus — esse país grande demais para caber só na cabeça, mas que insiste em caber no coração. Foi numa dessas caminhadas pelo mundo que tive a oportunidade de conhecer o Velho Chico. Conheci sua nascente, tímida, quase improvável de se transformar no imenso rio que viria depois, lá no alto da Serra da Canastra, em São Roque de Minas. Vi o fio d’água nascer discreto, como quem não quer chamar atenção para a grandeza que carrega no destino, logo em seguida a beleza da Casca D'Anta, a primeira grande queda d'água do Velho Chico, e daí em diante vai engrossando seu caldal, atravessando vales, montanhas, planalto e planícies, estreit...

A Estrada Que Nos Escolheu - Quando duas almas reencontram o caminho — e o destino decide sussurrar de volta.

Há encontros que não precisam de calendário; apenas acontecem quando duas almas, cansadas das próprias estradas, voltam a se reconhecer no meio do caminho. Depois de tanto tempo caminhando em direções diferentes, descobrem que certas conexões não se rompem — apenas adormecem, esperando o instante em que o mundo fica silencioso o bastante para que voltem a escutar um ao outro, e então reencontrem aquilo que nunca deixou de existir. O texto que você está prestes a ler nasce justamente desse reencontro: duas histórias individuais que, apesar dos desvios, guardaram uma chama discreta, porém teimosa — um amor que, por muito tempo, foi incompreendido, intenso demais para caber em palavras, mas nunca fraco o suficiente para desaparecer. Agora, mais maduros, com as cicatrizes que só o tempo sabe esculpir, esse sentimento finalmente encontra espaço para ser reconhecido, sentido e, enfim, acolhido. É nesse território onde sonho e verdade se cruzam que caminhamos juntos outra vez. E é daí que sur...

Das coisas que a gente lembra sem querer... o pássaro e a gaiola dourada.

A gaiola era de ouro — brilhante, perfeita, cintilando como se cada barra tivesse sido polida por expectativas alheias. E o pássaro, coitado, vivia ali. Tinha comida, sombra, e um canto que ecoava bonito nas paredes douradas… mas bonito demais, como se a própria acústica o estivesse enganando.  Era de alegria? De tristeza? NEm mesmo ele sabia. A porta estava aberta há anos. Aberta. Escancarada. Um convite silencioso que reluzia sob a luz, como se dissesse: vai! Sê livre! E, ainda assim, ele não voava. Permanecia ali, ofuscado pela reluzente gaiola dourada. Não era medo exatamente. Também não era comodismo — embora a almofadinha dourada no poleiro, macia como desculpa, ajudasse bastante a permanecer. Era um vazio mais fino que ar, mais afiado que silêncio. Uma ausência que brilhava como ouro falso: bela à primeira vista, mas fria ao toque. Algo faltava — um fragmento esquecido de si mesmo, escondido onde as lembranças, às vezes, se recusam a iluminar; uma velha chama que teimava em ...

Sobre os Professores que me formaram — e o eco que deixaram em mim

Dia desses recebi da Amazônia dois vídeos nos quais os alunos emocionados agradeciam à professora as aulas recebidas. Olha, a professora que é durona, sabe?, - daquelas que não se deixam cair por qualquer coisa -, percebi um certo, “eita! Caiu um cisco aqui no olho!” … e foi por conta desses vídeos é que surgiu a ideia para este post de hoje. Aí vai: Sempre que paro para pensar na minha trajetória, percebo que boa parte do que me tornei foi moldada por professores que deixaram marcas profundas em mim. Não falo apenas de conteúdos ou técnicas, mas daquelas presenças que, de alguma maneira, fizeram o mundo parecer maior, mais curioso e mais possível. E, olha, isso vem de alguém que não costuma admitir sentimentalismos em voz alta — mas cá estamos. Tudo começa lá na infância, com a Tia Olguinha. Foi ela quem abriu as primeiras portas para um mundo que eu ainda não entendia, mas que parecia fascinante. Depois, já um pouco mais crescido e cheio das manias escolares, vieram outros nomes que ...

Fio Azul (ou vermelho) - complemento do post anterior

Leitores e leitoras deste emblemático e insignificante blog. No último post eu senti certa dificuldade em finalizá-lo adequadamente, pois percebia que alguma coisa a mais poderia ser dita sobre o tema. Desafiei-os a complementá-lo e, com alegria imensa, recebi uma mensagem com um complemento.  Ao lê-lo, considerei tão repleto de sentimento que achei que merecia um novo post, somente para ele. Eis o complemento:  “Talvez o amor nos convoque porque sabe que somos feitos de brechas. Ele se instala justamente onde a razão não alcança, abrindo janelas por onde entram ventos que não controlamos. Há encontros que parecem sussurrar verdades antigas, como se duas almas, distraídas do mundo, reconhecessem uma à outra por algum código secreto que o tempo esqueceu. E, ainda assim, cada passo dado nesse território é novo, frágil, transparente, uma travessia em que o coração vai tateando no escuro, confiando mais na intuição que na certeza. E quando o amor chega, ele não ilumina tudo: deixa...

Um titanic de sinceridade

Nós, humanos, somos criaturas fascinantes: passamos a metade do tempo fugindo de decepções e a outra metade correndo atrás delas como se fossem os louros da nossa vitória, tal qual meninos com flores na mão. Ser romântico é caminhar alegremente rumo ao precipício, cantarolando como se cada passo não fosse só mais um centímetro em direção ao fundo pedregoso da sofrença.  Mas isso é justamente o que torna tudo tão… tão… me falta a palavra certa, misterioso? Fascinante? Arrepiante?… não sei ao certo. Saberia, você, explicar essa incerteza?  Talvez porque, no fundo, amar é um ato de coragem — ou de teimosia inglória ou, quem sabe tudo isso junto. Vai entender a cabeça dos enamorados? Penso que, se existe, esse tal grande segredo dos relacionamentos que os poetas declamam, seja o fato, concreto, de que ninguém realmente sabe o que está fazendo.  Num aceno ao profundo (e põe pro fundo nisso) filme daquele navio que afundou, sejamos mesmo quase, ou totalmente, como Jack e Rose ,...

A ironia Cósmica do Afeto

O Universo deve possuir humor negro, a verdade é essa! Pois inventou o amor só para ver dois seres humanos completamente despreparados tentando lidar com algo tão complexo quanto as regras do jogo de xadrez, que para alguns é a maior moleza, para outros parece grego, ou linguagem alienígena.  Você se diz: "Ei, Universo! Estou pronto para amar! Manda aí minha alma gêmea!". O Universo diz: "Segura essa, campeão", e te entrega alguém que vai te fazer sentir um misto de euforia, taquicardia, de ligar altas horas da madrugada, percorrer milhares de quilômetros só para dizer: eu te amo!  Às vezes isso pode dar totalmente errado, as mensagens se perdem, as almas se desprendem e cada um segue por um caminho diferente, separados um do outro.  Aí, depois de um tempo, às vezes longo, às vezes curto, tudo pode acontecer, vem o tal de “Universo”, dando uma de, ops, foi mal! desculpa aí, campeão! E te faz reviver tudo novamente.  Ele, o universo, afirma que desta vez vai ser dife...

Atualizando um post antigo... Amazônia... esquecer-te, jamais!

Afundado em Emoção — Versão Realidade (Finalmente) Depois de décadas submerso em silêncio, algo resolveu despertar — não como lembrança teimosa, mas como uma presença viva. Bastou um simples "e aí? tudo bem?" para que o passado, antes guardado como fotografia amarelada, voltasse com nitidez quase insolente. O reencontro aconteceu, finalmente. Ainda à distância, claro — porque minha vida insiste em funcionar no modo difícil — mas aconteceu. E a conversa fluiu com a naturalidade de quem nunca perdeu o ritmo, como se o tempo tivesse apenas colocado a história em pausa, não em esquecimento. A verdade é que a frase se fez realidade e nunca, jamais, esqueci. As recordações, essas sim, vieram fortes: cheiros, vozes, gestos, tudo se encaixando com uma familiaridade que desafia o relógio. Não é mais só memória. É memória atravessando o presente, refazendo caminhos que eu achei que já tinham virado lenda. Agora, tudo parece mais claro: algumas emoções não enfraquecem. Apenas esperam a ...