Notícias do Paraíso

A segunda parte do livro Notícias do Paraíso, de David Lodge, tem dois capítulos: o primeiro é um diário que começa em “Sábado, 12 [p.135] e termina na Quarta-feira, 16 [p.199-206] e o segundo [p.207 a 221] transcrições de cartas de turistas em visita ao Havaí a familiares e anotações do narrador. Uma delas me chamou à atenção por tratar-se de um texto pretensamente científico, contendo outra referência à obra de Lévy-Strauss (sic): “Esboço de introdução. – A categorização da motivação do turista em relação ao “desejo de passear”ou ao “desejo de sol” (Gray, 1970) não é satisfatória, o mesmo acontecendo com a sugestão de Mercer de uma taxonomia das férias baseada numa “redução de monotonia” (Mercer, 1976). Tipologia mas válida é a que se baseia na oposição binária cultura/natureza. Podemos discriminar dois tipos básicos de férias, em função da ênfase que é dada, respectivamente, ao contacto com a cultura ou com a natureza: as férias como Peregrinação e as férias como Paraíso. O primeiro tipo é caracteristicamente representado pelas excursões em auto-carro para visita a cidades, museus, castelos, etc. (Sheldrake, 1984); o segundo, pelas férias em estâncias balneares, onde o indivíduo em causa luta por um regresso ao estado puro, à inocência anterior ao pecado original, fingindo que pode viver sem dinheiro (assinando vales, utilizando cartões de crédito ou, como nas aldeias do Club Méd, contas de plástico), entregando-se a actividades mais físicas do que mentais e usando o mínimo de roupa. O primeiro tipo de férias é essencialmente móvel ou dinâmico e faz por integrar um número máximo de coisas vistas no tempo disponível. O segundo é essencialmente estático, tendendo para uma espécie de rotina intemporal e repetitiva, típica das sociedades primitivas (Lévy-Strauss, 1967, p. 49).
Nota. – Ao que parece, o Club Méd falhou nas suas tentativas de se estabelecer no Havaí. Porquê?” Aí, pensei com os meus botões: mais trabalho para os alunos.
Coincidentemente neste dia voltei a ver o filme Shirley Valentine. Trata-se da história de uma típica dona de casa de classe média baixa inglesa que um dia acompanha uma amiga em uma viagem de turismo de duas semanas às ilhas gregas e resolve ficar por lá obrigando o marido a ir ao seu encontro. O filme termina quando os dois sentam-se ao por do sol numa praia para discutir suas divergências. O expectador não fica sabendo o destino dos personagens. Mas presume-se que o algo mudará profundamente na relação.

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