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Como se faz um etnógrafo

"Como se faz um etnográfo" é o título do ítem VI (p. 48-58) do segundo capítulo de Tristes Trópicos, de Claude Lévi-Strauss. Foi dessa parte da obra que David Lodge colheu, embora ele afirme não se lembrar, a oração (parafraseando o próprio: "a ironia do vestígio de alusão cristã contida no termo não me escapou") que coloca na p. 166 do seu romance "Notícias do Paraíso" quando aborda a carreira do personagem Bernard dentro da Igreja:"Levy-Strauss (sic) diz em algum lado que o "estudante que escolhe a profissão de ensinar não se despede do mundo da infância; pelo contrário, está a tentar permanecer nele"".
Relendo o item citado de Tristes Trópicos sublinhei, um pouco mais adiante, o seguinte trecho: "(...) o ensino e a pesquisa não se confundem dêsse ponto de vista, com o aprendizado de um ofício. Sua grandeza e a sua miséria consistem em ser, ou um refúgio, ou uma missão.
Nessa antinomía que opõe, por um lado, o ofício, e por outro um empreendimento ambíguo que oscila entre a missão e o refúgio, participando de uma e de outra, sendo também uma ou outra, a etnografia ocupa certamente um lugar privilegiado. É a forma mais extrema que se possa conceber do segundo termo. Mesmo querendo-se humano, o etnógrafo procura conhecer e julgar o homem de um ponto de vista suficientemente elevado e afastado para abstraí-lo das contingências particulares a tal sociedade ou tal civilização. Suas condições de vida e de trabalho o separam fisicamente do seu grupo durante longos períodos; pela brutalidade das mudanças a que se expõe, êle adquire uma espécie de desenraizamento crônico: nunca mais se sentirá "em casa" em nenhum lugar, e ficará psicologicamente mutilado. Como as matemáticas ou a música, a etnografia é uma das raras vocações autênticas. Podemos descobrí-la dentro de nós, mesmo que jamais no-la tenham ensinado." ( C. Lévi-Strauss. Tristes Trópicos. Editôra Anhembi Limitada, São Paulo, 1957. Tradução de Wilson Martins - revista pelo autor, p. 52).

A propósito da antinomia "refúgio/missão" é interessante notar como Roberto da Matta se coloca diante de uma outra:
"Somos divididos e estamos unidos por uma reunião do igualitário com o hierárquico. Queremos, como tenho dito, os dois. Por isso, festejamos tanto e tão bem." Essa conclusão aparece no artigo publicado dia 29-12-01 no Estadão onde ele fala do Natal e refere-se à crise argentina qualificando-a de "valiosa".

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