“Desde Rachel Carson até a COP 30: o planeta grita e a humanidade responde com uma reunião e um coffee break.”
Em novembro deste ano, o Brasil vai sediar a COP 30 — a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Sim, trinta. Três-zero. Porque a gente adora fazer reuniões e emitir relatórios que são basicamente: "Estamos fritando o planeta e ainda assim seguimos firmes no churrasco."Mas essa história não começou agora. Lá pelos anos 50, uma senhora chamada Rachel Carson escreveu Silent Spring, um livro que já gritava — ironicamente em silêncio — sobre como pesticidas estavam detonando o meio ambiente. Depois veio Estocolmo em 1972, com gente reunida dizendo: "Precisamos fazer algo." Spoiler: não fizeram.
Foi ali que escolheram, à revelia do termo ecodesenvolvimento, tão caro a Ignacy Sachs, o termo "Desenvolvimento Sustentável" que, na verdade trata-se de um oxímero.. enfim, foi o tal clube de Roma que alertou para os perigos do crescimento populacional e o esgostamento dos recursos naturais - o relatório "Limites do Crescimento". Se antes as divergências eram entre o Leste e o Oeste, passam a ser, a partir desse momento, entre o Norte (desenvolvido) e o Sul (em desenvolvimento), entre países ricos e países pobres.. por isso o termo de Sachs era mais afeto ao problema: era (e é) possível crescer sem esgotar os recursos naturais, mas, por seu viés marxista, foi rejeitado e o termo que pegou mesmo é esse que ainda hoje se utiliza: Desenvolvimento Sustentável.
Vieram mais conferências: Roma, Quito, Paris, Rio, Kioto, e cada cidade deixava sua assinatura como quem diz “Eu também tentei”. Em 2000, no meu trabalho de conclusão de curso (sim, sou esse tipo de pessoa), já falava sobre mudanças climáticas. Usei conceitos como Representações Sociais de Moscovici, Ecodesenvolvimento de Ignacy Sachs, e aquele famoso método científico: “olha, tá dando ruim”.
A questão é: por que nada muda, se a gente sabe que o clima está mudando?
Talvez porque mudar o próprio comportamento seja mais difícil do que fingir que 40ºC em abril é “coisa de El Niño”. Ou talvez porque parte da população acredita que aquecimento global é só um plano secreto da indústria das camisetas regata.
E o mais fascinante: em pleno 2025, com geleiras derretendo como picolé no asfalto, ainda tem até 15% de brasileiros e cerca de 20% da população mundial que não acreditam nas mudanças climáticas. Gente que olha pro termômetro quebrando recorde e diz: “É só verão.”
Enquanto isso, seguimos emitindo carbono com a leveza de quem sopra velinhas no bolo do planeta. Emissões, omissões e, claro, decisões que chegam atrasadas, quando o nível do mar já bate no segundo andar.
A COP 30 vem aí. Vai ser linda, cheia de promessas, com direito a painéis solares e discursos emocionados, e talvez até um coquetel sustentável com canudinhos de bambu. Mas eu me pergunto: será que, desta vez, alguma coisa muda... além do clima?
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