A REALIDADE DE UM SONHO (V)

NÊODO

Dia 7 de março - domingo

A Clarice (Cla) liga pro Nêodo: diz que o Alê está com ela e explica em poucas palavras o nosso estranho encontro. E se com a Cla o reconhecimento demorou pra acontecer, com o Nêodo foi muito rápido. Estou falando com a amiga quando olho para o lado e vejo o Nêodo que me pergunta onde está a "Gazzetta dello Sport". Ao mesmo tempo ele abraça a Cla e nesse momento reparo que eles nunca tinham se visto antes. Depois o Nêodo se volta pra mim e em poucos segundos consegue me deixar maravilhado, sem palavras. Mal acaba de me abraçar e me dá de presente um broche com as bandeiras do Brasil e da Itália cruzadas. Nem tive tempo de agradecer e ele pega as minhas malas. Eu não queria que levasse as malas, pois já achava estar incomodando toda a sua rotina e a da família. Nem pensar em fazê-lo trabalhar! Ele pára: tira do bolso um chaveiro com duas chaves. Que lindo chaveiro! Trata se da cobra que fuma, o símbolo da Força Expedicionária Brasileira, assunto que fez com que nos conhecessemos. Olho com muita atenção e depois o devolvo ao seu dono. O Nêodo diz que é pra mim. Eu tento dar um sorriso, explicando que há duas chaves e que, se ele quiser me dar o chaveiro, pode entregar na minha volta pra Itália. Não, ele não quer me dar o chaveiro, mas as chaves da casa onde mora com a namorada, Therezinha, e onde eu iria ficar por duas semanas.

Aqui tenho que parar um pouquinho o conto. Se a casa fosse dele, da Therezinha, ou de qualquer outro, não seria isso a coisa mais importante. O importante foi que uma pessoa que nunca tinha me visto antes, depois um minuto de abraço, me entregou as chaves de casa. Quantas pessoas teriam feito isso? Eu, por exemplo, não. A minha educação baseou-se no "desconfia do próximo". Felizmente esta minha educação mudou um pouquinho ao longo dos anos, caso contrário eu não poderia fazer uma viagem assim longa só na base de umas amizades virtuais. Fica claro que a minha amizade com o Nêodo está sendo uma coisa extraordinária: tínhamos confiança um no outro antes mesmo da gente se encontrar, tendo falado apenas uma vez por telefone. Mas o gesto do Nêodo de me entregar as chaves de casa fica sendo uma coisa além do inesperado: eu não podia pensar nem de longe algo assim. Como nasceu a nossa amizade, vou contar quando fomos ao Monumento da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo. Aquí o que eu quero mostrar é a imensa bondade deste homem e da sua família.
E, aproveitando deste momento "entre parenteses", tenho que dizer que não vou contar toda a viagem assim segundo por segundo como estou fazendo agora. Não quero aborrecer todos vocês!! Mas alguns momentos têm que ser lembrados como se eu os vivesse agora, pela primeira vez. E com imenso prazer. Vou continuar, por poucas linhas ainda este capítulo.

Fico com as chaves na mão: se já acho de ter ar de "bêbado" depois de três aviões e depois de vinte horas viajando, agora tenho que ter ar de "bobo". Estou saindo do aeroporto. A minha visita começa. Mas neste momento páro de pensar no turismo. Acabo de receber a mais grande lição de amizade que eu nunca tive.

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