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A REALIDADE DE UM SONHO (IV)


CLARICE

Dia 7 de março – domingo

Eis agora que estou sentado no Galeão. Melhor: no Antonio Carlos Jobim, como o pequeno grupo que toca as canções do Mestre dentro do aeroporto faz lembrar. Depois de saudar o par italiano com o qual fiz a viajem de São Paulo, pela primeira (e única) vez me sinto só: fico olhando o encontro dos outros passageiros com o pessoal que espera por eles. Vou me sentar. Muito parecem estar aquí por trabalho, por duas vezes se aproxima um cara que procura provavelmente um funcionário de uma firma: mas não sou eu quem o cara está procurando. Olho o relógio: nossa!, tenho bastante tempo pra esperar. Nem sei se a saida pode ser aquela certa para o encontro: nem sei se quero ficar sentado ou dar um passeio dentro do aeroporto. Olho pra todo o lado com ar vadio. Entra uma garota: quase parecida à Clarice, vista daquí. Tomara fosse ela: é ainda mais bonita que nas fotos. Verdade que a aparência não é importante; a Cla foi muito gentil em oferecer ajuda na minha visita carioca. Não importa como ela será exteriormente, porquê já sei da sua beleza interior. A garota logo vai embora. Neste momento uma dúvida: e se a Cla e o Nêodo vêem sozinhos e também eles vão se encontrar por aquí? Eu disse só para o Nêodo das cores das minhas malas (e de uma “Gazzetta dello Sport” que não tenho) mas não disse nada à Cla; que erro!!
Passam poucos minutos e a garota volta. Parece que ela esteja procurando alguém. Mas este alguém com certeza não sou eu. Na verdade…mais se aproxima mais parece a querida amiga. Mas não pode ser: cedo demais, mesmo se o avião que eu deveria pegar na origem fosse pontual. Volto aos meus pensamentos. De vez em quando procuro a garota. Ela sobe o andar superior….ela volta a descer…ela está se aproximando pra mim…aos poucos ela abre o sorriso…está sorrindo pra mim…eu também vou acenar um sorriso…Mas logo páro: o meu primeiro sorriso vai ser pra Cla ou pra Nêodo. Só pra eles. Apago o meu sorriso e viro a cabeça do outro lado.
Estou cansado mas a espera do encontro com os amigos e o saber que estou no Rio de Janeiro me mexem bastante. Viro a cabeça: a garota se sentou a poucos metros de mim mas voltada do outro lado, conforme à disposição das cadeiras. Assim estamos de perfil. Sim, na verdade é uma linda garota. Mas não quero olhar-la: sou tímido e não gosto de me fazer ver sempre olhando ela. Mas depois volto a olhar: e se fosse a Cla? Os cabelos…poderia ser…Tenho que virar de novo a cabeça. Novamente olhando ela: sim, parece muito, mas acho que não é…viro a cabeça.
Olhando: das fotos, poderia ser…
Não olhando: tenho que esperar só alguns minutos…
Olhando: parece, mas se fosse ela também me poderia reconhecer e agora nunca me olha, não pode ser…
Não olhando: será que estou no lugar certo pelo encontro? Mas a saida está aquí, tem que ser aquí…
Olhando: nossa! Os óculos que ela tem são os mesmos da última foto que a Cla me enviou…
Não olhando: e se realmente fosse a Cla?…
Olhando: cabelos, óculos, fisionomia parecida…
Não olhando: mas se ela está sentada e não olha nem um segundo pra mim, não pode ser…
Olhando: é…
Não olhando: não é…
Olhando: é…
Não olhando: não é…
Olhando: é…
Não olhando: não posso estar aquí sentado na dúvida, tenho que me fazer coragem e ir falar com ela…
Olhando: será ela? E se não fosse…
Não olhando: tenho que ir, se não fosse vou pedir desculpas a esta garota…
Olhando: com certeza os óculos são os mesmos…
Não olhando: coragem, guri! Levanta o teu corpo e chega de timidez! Afinal não tenho nada a perder senão o tempo aquí pensando se é ou não é…
Olhando: agora venho me aproximar, garota, fique alí sentada!
Viro pela última vez a cabeça. Cerca de vinte minutos depois que ela se sentou alí (e cerca de quarenta minutos depois que ela entrou pela primeira vez no aeroporto), pego a decisão de falar com a provável Clarice. Me levanto: quase com desinteresse pareço procurar a saida pra depois virar de repente para a garota. Toco o seu ombro esquerdo e ela vira a sua cara pra mim. Chegou a hora de falar, muito sério: “Peço desculpas…” O meu acento estrangeiro faz entender à garota quem eu sou. Ela abre o seu sorriso e depois começa a rir. Neste momento eu sei que diante de mim está a minha ex-amiga virutal e agora real, Clarice Abreu. Mas tenho que completar a frase, rindo: “…você está esperando uma pessoa que vem da Itália e que conseguiu pegar o avião antes daquele que ele devia pegar?” Clarice não diz nada: ela ri. Tenho que cumprir promessa. Vou do lado das cadeiras onde está ela, abraço ela bem apertado e a levanto do chão.

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