Desempregados superqualificados...

AG. IBGE Noticias
"[...]o Brasil está formando mestres e doutores para o desemprego [...]", a frase é do professor Sílvio Meira (UFPE/FGV). De fato, os números apontam para um crescente número de pessoas bem qualificadas em situação de desemprego. A crise econômica por que atravessa o país afeta todas as camadas sociais, de alto a baixo impactando a capacidade de produzir ciência no país.

Certa vez ouvi alguém dizer "O Engenheiro que virou suco", uma alusão a um engenheiro que, por causa do desemprego, optou por abrir um pequeno negócio informal: montou um carrinho de suco de laranja para vender nas ruas da cidade em que mora. Parece até anedota mas, pasmem! é verídico...

Voltando ao assunto tema do post, o número de mestres e doutores desempregados no Brasil é o maior do mundo!! Enquanto em outros lugares o índice de desemprego no grupo é de 2%, no país é de 25%! isso para doutores, porque para os que possuem mestrado a conta é mais perversa: 35% desempregados. 

Essa situação pode ser explicada, por um lado, pelo aumento de oferta de cursos de pós-graduação no país (mestrados profissionais, mestrados acadêmicos e doutorados, por exemplo) e, por outro lado, pela inexistência de uma política de aproveitamento desses profissionais pelas empresas de ponta e que fazem pesquisas e, pelas ações governamentais nessa área.

Além disso, muitos profissionais não estruturam sua carreira acadêmica pautada num crescente dentro de uma mesma área (graduação - pós-graduação), havendo aqueles que optam por carreiras mais interdisciplinares. Essas escolhas esbarram, no futuro, com exigências de, como afirmam os recrutadores das universidades e faculdades no país, "aderência", isto é: para que um professor lecione num determinado curso exige-se que sua formação inicial seja naquele curso ao qual pretende lecionar. 

Esse tipo de exigência restringe o aproveitamento de muitos que, por exemplo, possuem graduação numa determinada área e pós-graduação (mestrado e doutorado) em outras áreas.

Exigência essa que não é comum em outros países, nos quais a interdisciplinaridade é valorizada, e aqui não. E, como se não bastasse, ainda temos o problema do "êxodo intelectual", que retira do país cientistas de ponta para países nos quais são mais valorizados e aproveitados. 

Para enfrentar esse panorama crítico é preciso que a educação seja mais valorizada, que as políticas públicas voltadas para o aproveitamento do potencial intelectual disponível sejam direcionadas para maior valorização desse tipo de profissional e, também, mudanças importantes precisam ser efetivadas na forma como são recrutados profissionais para o ensino superior no país. 

Conclui-se que investimentos empresariais e governamentais em desenvolvimento e pesquisa é fator crucial para que o país possa ser mais produtivo e ocupar o papel que lhe reserva o cenário mundial. De nada adianta termos mestres e doutores para espremerem laranjas na esquina. Sem ciência, e sem cientistas, corre-se o risco de perder o bonde da história.

Comentários