Empregos verdes podem ser solução, mas nem todos acreditam

Encontrei na Web este artigo de Engel Paschoal, publicado no jornal O Povo de 03 de agosto de 2009 (versão online) disponível aqui que reproduzo aqui sob autorização do autor.
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Segundo o relatório “Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono” da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 2,3 milhões de novos empregos foram gerados só no setor de energia renovável nos últimos anos, podendo chegar a 20 milhões de vagas até 2030.

O caminho apontado pelo relatório como possível nesta transição dos combustíveis fósseis para a bioenergia é uma economia verde, baseada em princípios de sustentabilidade e com forte foco em produtos da biodiversidade brasileira e global (boletim Ethos 15/4/09).

Muitos danos por acharmos que mercado se autorregula
Para Ignacy Sachs, um dos defensores da ecossocioeconomia e professor honorário na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, França, “precisamos de soluções interessantes para as duas áreas: a urbana e a rural. (...) A idéia de que o mercado se autorregula já causou muito dano”.

Ele sugere a criação de sistemas integrados de manufatura de bioprodutos, administrados por pequenos produtores cooperados. “Quando falamos de empregos verdes, é preciso ir além dos catadores, da reciclagem e da agroenergia”, avalia. Ele imagina um grupo de 500 assentados, cada um com 10 hectares plantados com dendê, que dá fruto o ano todo e é utilizado na fabricação de biodiesel, e mais cinco hectares cultiváveis.

Assim, estaria formada uma vila que demandaria a instalação de escola, posto de saúde, opção de lazer etc. Cada família poderia produzir seus próprios alimentos e, juntos, eles organizariam uma agroindústria para aproveitar tudo. Sachs acredita que a floresta e a agricultura podem, juntas, oferecer todo o necessário para alimentar e mover a sociedade da biomassa. Para ele, é possível extrair da biodiversidade da Amazônia, por exemplo, muita energia e comida, sem criar nenhuma nova área desmatada.

Quem mais precisa e trabalhos mais necessários

Há várias iniciativas pelo mundo em favor dos empregos verdes. Nos EUA, a ativista pelos direitos civis Van Jones começou os “empregos verdes” para enfrentar pobreza e mudanças climáticas. E deu a jovens sem trabalho empregos como plantio de árvores, instalação de estruturas de isolamento térmico e de painéis solares e eliminação de lixos tóxicos: “Façamos a ponte entre as pessoas que mais precisam e os trabalhos mais necessários”.

O próprio governo dos EUA tomou medidas em favor dos empregos verdes: no pacote de estímulo econômico destinou US$ 500 milhões para a criação de milhares postos de trabalho nessa área.

No Reino Unido, o primeiro-ministro Gordon Brown afirmou que boa parte dos investimentos para a recuperação econômica será destinada às iniciativas verdes e promete a criação de 400 mil novos empregos.

O relatório da OIT aponta que na China estão muitos dos 600 mil empregados em energia térmica solar e na instalação de aquecedores solares; na África do Sul, 25 mil desempregados foram alocados em atividades de conservação como parte da iniciativa “Working for Water”; na Nigéria, os biocombustíveis a partir da mandioca e cana-de-açúcar podem empregar 200 mil pessoas; e na Índia podem ser criados 900 mil empregos na gaseificação de biomassa até 2015.

Mas nem tudo é tão verde esperançoso, segundo a Agência Envolverde (19/6/09). Pesquisa do Instituto Akatu revelou: 46% acreditam que as empresas que fazem algo pela sociedade e meio ambiente estão praticando “greenwashing” (lavagem verde); para 64%, o Estado deveria criar leis obrigando as empresas a irem além do tradicional e contribuírem para uma sociedade melhor; e 53% deixariam de comprar sua marca preferida se soubessem que o fabricante prejudicou a sociedade ou o meio ambiente.

O governo também não ajuda: “As medidas para evitar mais impactos da crise financeira não consideram a questão ambiental”, diz o diretor de políticas públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão.

Engel Paschoal (engelpaschoal@uol.com.br) é jornalista e dá cursos e palestras sobre responsabilidade social.

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