Debate sobre Cotas - Negros...

Comprei a úlima edição da revista Caros Amigos e gostei muito da matéria, por isso, tomo a liberdade de trasncrevê-la aqui... lá vai...

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Debate quente - Negros
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Na Caros Amigos de junho último, César Benjamin escreveu um artigo ("Tortuosos Caminhos") sobre a adoção de cotas para negros no serviço público (20 por cento). Na edição seguinte, julho, Sueli Carneiro, diretora do Geledés Instituto da Mulher Negra, rebateu os argumentos de Benjamin. Ao mesmo tempo, dois outros estudiosos do tema – Samuel Aarão Reis e Marco Frenette – enviavam para a redação textos também criticando a posição de nosso articulista. São os que publicamos agora, juntamente com a resposta tríplice de Benjamin.


Nosso bloco está disposto e é bonito, também temos o direito de desfilar na avenida.
Samuel Aarão Reis

Brasil, país de mestiços. Que beleza!
Nos sonhos de Darcy Ribeiro esta seria a grande contribuição brasileira para a civilização humana, a mistura das raças nos garantindo um espaço único e original entre os povos do mundo. Jorge Amado defende em seus romances tese semelhante: não haveria nenhum brasileiro que não fosse mestiço, mistura de brancos, índios e negros, e justamente daí nossa criatividade e beleza.

Como esses dois intelectuais brasileiros do mais alto gabarito, progressistas, engajados na luta social, chegaram a essas idéias?

É necessário conhecer a época em que eles formaram suas idéias.

Darcy Ribeiro e Jorge Amado brigavam na primeira metade do século passado contra setores conservadores da sociedade brasileira, com alguma influência no poder, defensores da "pureza e da superioridade da raça branca", setores racistas, portanto, identificados com as idéias nazistas que então avançavam através do mundo. Naqueles anos, após o fim da escravidão (aliás, o Brasil foi o último dos países a acabar legalmente com o regime escravo), os racistas brasileiros estavam preocupados em "extirpar" do nosso país a "mancha social" formada pelas populações negras e mestiças. Seriam essas populações as responsáveis pelo nosso atraso político, econômico, cultural. E, com esse objetivo, tais setores conservadores estavam conseguindo algumas vitórias.
Na migração existiam orientações explícitas para dificultar a entrada de africanos no nosso país. Na diplomacia e na Marinha, nossos representantes no estrangeiro, negros e mestiços não eram aceitos.

A religião de origem africana era proibida, perseguida pela polícia, que invadia terreiros, quebrava tudo, batia nas pessoas, seqüestrava os objetos sagrados de culto. Apenas em 1952 o candomblé passou a ser permitido, assim mesmo, pasmem!, com a obrigatoriedade de se registrar nas secretarias de Segurança.

O Carnaval na época era o do corso, automóveis desfilando pelas avenidas, batalhas de confete, as pessoas bem-nascidas, brancas, se divertindo; quando os negros formavam seus blocos, eram dispersados pela polícia, baderneiros! – os negros, para driblar a repressão, criaram os blocos de índios, famosos até hoje. A capoeira também foi proibida. Ensinada e aprendida às escondidas, os mestres eram perseguidos, presos, obrigados a mudar de cidade.

Um ataque geral a todas as manifestações públicas da cultura negra. (Como se sabe, para destruir um povo, não é necessário matar cada uma das pessoas que o formam, é suficiente desmoralizar sua cultura.)

Darcy, Jorge Amado e outros tantos debochavam daqueles brancos arrogantes que se achavam raça pura: deixem disso, besteira isso de raça pura, isso não existe, todos nós somos mestiços. Naqueles anos, quem fosse progressista, contra o racismo e o nazismo defendia a necessidade da comunhão entre as raças, que passou a ser confundida com a mestiçagem – uma solução original, brasileira, para evitar o conflito entre as raças. A luta era, como ainda hoje, política, ideológica, cultural, sem abandonar o campo científico no qual a existência de raças e a superioridade de umas sobre as outras já estavam completamente desmistificadas.

Brasil, país de mestiços. Que mentira!
Na segunda metade do século que acaba de se encerrar, em especial nas últimas duas décadas, várias pesquisas e estudos, distinguindo a situação de brancos, negros e pardos, vieram demonstrar que a tão falada mestiçagem do povo brasileiro era um engodo. As desigualdades entre brancos de um lado e negros e pardos de outro não só eram grandes, como se mantinham estáveis após cem anos do fim da escravidão. Já entre pardos e negros, as diferenças eram insignificantes.
Os dados levantados pelas pesquisas e estudos não deixaram margem para dúvidas.

Renda e salário – O salário médio de um negro é de 2,61 salários mínimos; já um pardo ganha 2,71; enquanto um branco, 5,6 salários mínimos.
Famílias com renda de até meio salário mínimo: brancas, 12 por cento; pardas, 24,5 por cento; negras, 30,4 por cento. Famílias com renda de mais de cinco salários mínimos: brancas, 14,8 por cento; negras, 3,3 por cento; pardas, 3,3 por cento.
Entre os 10 por cento das pessoas com maior renda no Brasil, 90 por cento são brancas. Já entre as 10 por cento com menor renda no Brasil, 70 por cento são negras e pardas.
(Mesmo com a estabilidade econômica do real, nesta última década, não houve uma redução das diferenças raciais, segundo o IPEA.)

Educação – Um branco tem em média 7,5 anos de estudo, e os negros e pardos têm 5,1. O analfabetismo é maior entre os negros e pardos (21,6 e 20,7 por cento) que entre os brancos (8,4 por cento).
Ainda que tenha havido progressos nas últimas décadas para o conjunto da população tanto na média de anos de estudo como nas taxas de analfabetismo, a diferença entre brancos, pardos e negros se manteve estável. E, com a mesma escolaridade, negros e pardos ganham em média 20 por cento menos que os brancos.

Segurança – Relatório sobre a cidade de São Paulo diz que a raça é um fator que influencia nas mortes por assassinato: "Quanto mais escura é a pele da pessoa, mais suscetível ela está de ser vítima da polícia". No Rio de Janeiro, os estudos chegam às mesmas conclusões: 70 por cento das pessoas mortas por policiais são negras ou pardas. Outra pesquisa definiu o grupo de risco nos casos de assassinatos no Rio de Janeiro: tem mais possibilidades de morrer quem é negro ou pardo, solteiro, idade de 20 a 30 anos, e mora na Baixada Fluminense.

Nos presídios estão 76,8 de brancos para cada 100.000 habitantes e 280,5 de negros e pardos. Para os mesmos crimes, estes últimos recebem penas maiores.

Infância – Entre as crianças que trabalham, 62 por cento são negras e pardas. A mortalidade infantil é de 29 por 1.000 nascidos para os brancos e 53 por 1.000 para os negros e pardos.

Muitos foram os números levantados e abrangem os mais variados campos de atividade. Não serão citados todos aqui. Importante é verificar que as conquistas da população negra nos últimos anos não foram resultado apenas nem principalmente de estudos e pesquisas. Essas conquistas foram resultado da luta e da organização crescente dos movimentos negros que passaram a expressar cada vez com mais força suas reivindicações.
Se na primeira metade do século as belezas da mestiçagem eram cantadas em prosa e em verso para enfrentar os racistas que tinham como ideal a pureza e a superioridade, e o domínio também, da raça branca, hoje a situação é outra – diante do avanço dos movimentos negros que querem mudanças, aqueles que não as desejam, os que pretendem a manutenção das desigualdades levantam a bandeira da mestiçagem: "Mudar para que, somos todos mestiços, somos todos iguais, uma e outra injustiça serão sanadas com o tempo, mais investimentos na educação, algumas medidas de emergência aqui e ali, tudo irá se arranjando, todos irão se incluindo nesta nossa sociedade que desde já é de todos, é mestiça". O próprio presidente da República, escorregando feio no preconceito, declara que "tem um pé na cozinha".

As idéias são fortes e muitas delas sobrevivem à época que as geraram.

Mas as idéias, com o passar do tempo, podem mudar de lado. A mesma idéia, numa época instrumento de luta das forças sociais transformadoras, em outra pode passar a ser arma daqueles que não querem mudanças. Darcy Ribeiro, Jorge Amado não perceberam o passar do tempo, que a bandeira que tinham levantado em sua juventude havia mudado de mãos, defendia hoje interesses outros, contrários. Não perceberam em especial, e isso o mais importante, o crescimento dos movimentos negros e suas novas reivindicações.

Quem luta pela transformação precisa estar atento ao surgimento dos novos atores e forças sociais. Que começam pequenos, mas marcam presença, pois sacodem a mesmice, bagunçam a rotina, viram a mesa, questionam as maiorias acomodadas, põem novas questões para a sociedade. As idéias não existem soltas no ar, estão coladas a determinados movimentos sociais e políticos. Quem fica apenas no plano das idéias não vê os movimentos sociais mutantes e em confronto, corre o risco de passar de um lado para outro na luta política.

Hoje, a cada dia que passa, mais e mais pessoas estão sensibilizadas para a necessidade de enfrentar a desigualdade racial no Brasil. Não há mais como escondê-la, daí que as políticas de ação afirmativa ganhem mais adeptos. É preciso fazer alguma coisa. E agora.

Brasil, país de mestiços. Aqui, ó!

As políticas de ação afirmativa buscam incluir os negros e pardos em nossa sociedade. Mas incluí-los como? No mundo branco ou numa sociedade multicultural e pluriétnica? Está aí, hoje, a verdadeira linha divisória entre o racismo e o não-racismo. As políticas de ação afirmativa só têm sentido se e quando costuradas pelo reconhecimento e pela valorização da identidade cultural dos negros. Fora disso serão pontuais, paliativas, paternalistas, e com fracasso anunciado.

"O que é isso de identidade cultural? Somos todos brasileiros (mestiços?...), identidade cultural é invenção dos negros americanos, isso não existe aqui, isso é querer ir para o gueto."

As comunidades negras não querem ir para gueto nenhum. Querem justamente sair do gueto em que hoje se encontram. Uma sociedade multicultural reconhece e, mais do que isso, valoriza as diferentes culturas que se desenvolvem em seu meio. E, numa situação de igualdade de direitos, a tendência é o diálogo e a troca entre as diversas culturas, enriquecendo a sociedade.

Índios, judeus, árabes, poloneses, alemães, italianos, portugueses etc. preservam sua cultura dentro de nossa sociedade e, ao mesmo tempo, são brasileiros. Cada uma destas etnias formadoras do povo brasileiro, cada uma com sua contribuição específica, passou por momentos de maior ou menor fechamento, maior ou menor abertura, em relação às outras culturas, o que não nega seu direito inalienável de preservar a própria cultura.
Os descendentes de africanos no Brasil mostraram ao longo dos anos, de escravidão e opressão, a força de resistência de sua cultura, viva até hoje, com enormes contribuições na construção da sociedade brasileira.

Por que então inventar para os negros um caminho de integração à sociedade diferente daquele aceito para os outros grupos étnicos? Por que para os negros a integração deveria se dar indivíduo por indivíduo, um de cada vez, e não como grupo étnico? Por que impedir que os negros preservem sua identidade, cultuem suas tradições, tenham orgulho de suas representações, e colocar isso como condição para que se integrem à sociedade brasileira?

Alguns séculos atrás, senhores doutores discutiam, com toda a gravidade que o assunto exigia, se os escravos tinham alma ou não. Será que vamos hoje discutir se os negros têm ou não uma cultura própria, rica, específica? O que é um povo, o que é um homem, uma mulher despossuídos de sua cultura, se a cultura é a alma e a dignidade de cada um?

"Queremos ver respeitada nossa diferença em tudo aquilo que diga respeito à nossa identidade cultural, e queremos ser iguais em tudo aquilo que diga respeito à cidadania", é a bandeira dos movimentos negros.

Samuel Aarão Reis é assessor da Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Rio de Janeiro.



Na discussão sobre cotas para negros, cada vez mais se confunde a necessidade de políticas emergenciais de inclusão social com planos estruturais de longuíssimo prazo.

Entre osonho e a realidade
Marco Frenette

Em artigo na Caros Amigos passada, César Benjamin se serviu da história e da ciência para criticar a política de cotas. Involuntariamente, acabou reforçando alguns equívocos que cercam essa discussão.

Seu resumo da construção e posterior indefensabilidade científica do conceito de raças é irretocável. Ocorre, porém, que nisso todos estão de acordo; incluindo aí muitos racistas. E aqui já se encontra a primeira fragilidade argumentativa da crítica de Benjamin: a crença implícita de que o racismo é fruto direto da ignorância. Conhecimento não purifica espíritos já poluídos pelo preconceito racial. Muitos enfeitam suas casas com magníficas estátuas africanas, elogiam a mulher negra e ridicularizam A Teoria das Desigualdades Raciais, de Gobineau – fazem tudo isso ao tempo em que continuam perfeitamente racistas.

As coisas são assim porque há forte componente irracional no racismo. Exibam-se conhecimentos científicos, critique-se à vontade o conceito de raça, varrasse-o da Terra, e nada mudará: o negro continuará sofrendo por ser negro. Não se apaga a realidade das coisas destruindo-lhes os símbolos.

Benjamin argumenta que a classificação de grupos humanos tendo como base a cor da pele é visível aos olhos e, como tal, evidente: "Brancos são brancos e negros são negros. Porém, há muito tempo a ciência aprendeu a desconfiar de ‘evidências’. Também não é ‘evidente’ que o Sol gira em torno da Terra? Não é ‘evidente’ que a Terra é plana? O processo de conhecimento é sempre a superação de ‘evidências’".

Isso quer dizer o quê? Que o preto é uma ilusão de óptica? Que um dia a ciência derrubará a teoria das cores de Goethe e o preto desaparecerá? A terra, certamente, não é plana; mas, com absoluta certeza, o preto é preto.

Mais importante que o surrado esvaziamento biológico do conceito de raça é admitir que a cor da pele é o fato fundador da questão racial negra. Sartre escreveu que a maldição do negro é viver permanentemente encurralado na autenticidade da sua cor: a pele não é algo que se possa arrancar. Portanto, tentar diminuir a importância do conceito de raça na emancipação do negro é uma forma de lhe negar aquilo que é justamente a causa de seu sofrimento, mas, também, a base de sua auto-estima e de sua possibilidade de emancipação da tutela branca: a sua negritude.

Nisso não há, como crê Benjamin, nenhum impedimento para o "processo de construção de uma sociedade mestiça". Pelo contrário, isso ajudaria o negro a se reincluir nessa tal sociedade miscigenada com mais dignidade. Não por baixo ou por cima do branco, mas em pé de igualdade.

O artigo também afirma que somos todos "culturalmente mestiços". Não é bem assim. De minha parte, por exemplo, não me sinto e nem me vejo como mestiço. Mas que se pergunte a um negro se ele se sente culturalmente mestiço, e se descortinará um mundo psicológica e culturalmente dividido. Apesar das aparências (aqui, sim, a idéia de "evidência" pode ser contestada), pretos e brancos ainda têm sérias dificuldades em se misturar. Podemos até descambar para o social: nos bairros pobres, brancos e pretos só se misturam pela necessidade imposta por uma vida miserável. Porém, quando brigam entre si, as diferenças aparecem, sendo comum o branco desabafar: "Só poderia ser preto mesmo!" Deveríamos condenar esse tipo de "mestiçagem cultural", pois é lauto alimento para o cinismo e a hipocrisia. A verdadeira miscigenação ainda não aconteceu.

Mas a miscigenação não é nem o problema nem a solução para o racismo. Ela não é, também, nem boa nem ruim em si. É apenas um fato social, biológico e humano, que muitos – tanto à esquerda como à direita – tentam transformar em algo positivo ou negativo de acordo com suas conveniências. O lugar da miscigenação é o terreno da neutralidade.

No relacionamento inter-racial, porém, estão algumas das chaves que possibilitarão melhor compreensão da questão racial brasileira, por um mergulho nas emoções e nos sentimentos inconfessáveis que permeiam o preconceito e o estranhamento racial que há entre pretos e brancos. É nesse contexto, e não em outro, que o conceito de raça se torna instrumento conceitual indispensável.

Tentemos, entretanto, em lugar desse pente-fino no artigo em questão, entender de qual tipo de mentalidade ele é tributário. Em filosofia existe o conceito de plano, que designa os diversos graus ou níveis da existência, cada um deles com características próprias e não redutíveis às características de outros graus ou níveis. Quer dizer, cada plano de realidade é regido por leis próprias, que apenas "dialogam" com outros planos, mas sem se misturar.

A isso o filósofo francês Émile Boutroux chamou de "contingência da realidade". Do respeito e da compreensão dessa contingência vem a espinha dorsal de qualquer raciocínio que busque a inteligibilidade necessária a objetivos práticos. Mas, sempre que esses planos de realidade se misturam indiscrimina-damente, acachapa-se o mundo, estabelece-se a confusão no debate intelectual, e os argumentos viram reféns das necessidades ideológicas dos debatedores. É o surgimento, no mundo das idéias, do nonsense.

Pois bem, tragamos essa constatação filosófica e de método para o problema das políticas de cotas. Tanto os argumentos a favor como os contra saem basicamente da reflexão sobre dois Brasis: o ideal e o real.

O primeiro seria aquele país democrático e justo, onde todos teriam direito a boa educação e a oportunidades iguais. Submetidos a um Estado meritocrático, os melhores cérebros teriam destaque na sociedade, independentemente de cor ou raça. Para o resto, sobraria justiça social, e, assim, se criariam uma elite mestiça e um povo sadio e feliz.

O segundo é este Brasil injusto e perverso que conhecemos, onde a população negra oscila entre 35 e 45 por cento do total (dependendo da estatística e do critério de determinação de cor utilizados) e, no entanto, amarga uma completa invisibilidade social.

Neste ponto é que entra a mistura dos tais planos de realidade que o filósofo camelou para formular, talvez inutilmente. Baseada na realidade, a política de cotas surge como uma medida um tanto quanto desesperada e francamente antipática, sendo, no entanto, um tratamento de choque inadiável. Já os que são contra as cotas usam argumentos tirados de um Brasil ilusório para desqualificar algo que visa uma interferência prática no Brasil real, concreto, e com realidades cotidianas e racistas facilmente verificáveis.

Esse equívoco intelectual permitiu a Benjamin afirmar, para criticar as cotas nas universidades, que "deveríamos garantir uma escola pública universal, gratuita e de boa qualidade, onde todas as crianças convivessem juntas e recebessem a mesma educação fundamental." Argumentos não podem ficar migrando de uma esfera para outra. "Deveríamos garantir", só que não garantimos... Maurício de Nassau morreu, Gustavo Capanema morreu, Anísio Teixeira morreu, Paulo Freire morreu, Darcy Ribeiro morreu – e muitos outros morrerão até surgir essa "escola pública universal".

Portanto, acenar com um Brasil futuro para desqualificar a política de cotas é dar um golpe baixo na inteligência. Usemos de uma imagem para explicitar esse samba do crioulo doido que anda passando por debate sério. Digamos que um homem está gravemente ferido. Ele sangra muito, e pede ajuda a outro: "Chame um médico, rápido, senão morrerei". O homem saudável ouve isso e, calmamente, cheio de complacência oriunda de uma visão de futuro que o faz crer superior, responde: "Meu caro, o Brasil tem um projeto de civilização que vingará, o mais tardar, daqui a cem anos, daí teremos médico e hospitais para todos. Faça o favor de esperar".

O que pede por um médico representa os negros que querem soluções para suas atuais vidas, e não para as próximas reencarnações; o que substitui a urgência de um médico por um projeto futuro e desejável de justiça social representa todos os viajantes do túnel do tempo, que, sádica ou docemente, se comprazem com o vício psicológico de confundir sonho com realidade.

Marco Frenette é jornalista.



Racismo não
César Benjamin

Caros Amigos publicou há três meses um artigo em que eu me posicionava contra a adoção de normas que criem condições diferenciadas de acesso a empregos e serviços públicos de acordo com a cor da pele, ou a "raça", de cada um. No número seguinte, coerentemente, a revista publicou uma defesa da posição oposta, assinada por Sueli Carneiro. Como muitos, ela considera que tais normas são uma forma legítima e necessária de estimular maior presença de negros – obviamente, algo desejável – nessas instituições. Eu não tinha, nem tenho, interesse em esticar o assunto, cada réplica provocando uma tréplica e assim sucessivamente, como se a busca da última palavra ou o grito mais estridente concedessem razão a alguém. Fiquei satisfeito ao saber que ambos os textos estavam sendo reproduzidos para debate em escolas e grupos. Para mim, mesmo com a desvantagem de ter escrito primeiro, estava tudo de bom tamanho. Meus artigos seguintes versaram sobre temas bem diferentes.

Houve depois diversas cartas, algumas bastante agressivas: eu só podia ser um branquinho folgado, que não teve de fazer força para concluir a faculdade (nunca concluí nenhuma); garboso com meu doutorado (que não tenho), ocupo comodamente uma cátedra (quem me dera...) e sou contra as cotas porque tenho medo da concorrência de gente mais esperta, que começaria a chegar. As pessoas que escreveram isso, e sandices afins, não me conhecem. Não obstante, apresentam-se como campeãs na luta contra preconceitos.

Novos artigos também continuaram a chegar. Mais dois saem nesta edição. O nível é outro, mas a tentação da desqualificação permanece pulsante. O melhor deles, de Sueli Carneiro, já publicado, reitera que César Benjamin "deixa deliberadamente de fora" os dados relevantes, "passa intencionalmente por cima" dos processos históricos, "ignora solenemente" a concentração de negros em favelas; diz que a oposição aos negros é "aguerrida", a negação de que o racismo seja uma característica central da nossa sociedade é "patológica", a recusa é "intransigente", a defesa de outras propostas é "maníaca", e assim por diante. Como se vê, minha honestidade intelectual fica por um fio, para dizer o mínimo; surgem dúvidas também sobre minha sanidade mental. Samuel Aarão Reis coloca entre aspas argumentos ridículos, fabricados sob medida para serem demolidos, induzindo o leitor a pensar que eu os usei. E também radicaliza: corro "o risco de passar de um lado para outro na luta política". Desonesto, louco e direitista, eis o triste fim que me espera. Quem diria...

Por tudo isso, e a pedido de Caros Amigos, volto ao assunto, creio (novamente) que pela última vez.

Os dados a que Sueli se refere, e que todos usam, são um conjunto de estatísticas que mostram que, na sociedade brasileira, os subgrupos formados por "brancos", de um lado, e "negros", de outro, apresentam discrepâncias significativas em indicadores representativos da qualidade de vida, como por exemplo níveis de renda. Esses números e percentagens, produzidos em grande quantidade nos últimos anos, têm sido, de longe, o principal ponto de apoio para os que pretendem demonstrar a centralidade da "questão racial" em nosso país. Como todos os números, estes também transmitem com facilidade uma imagem de precisão, objetividade e realismo que torna quase supérflua qualquer discussão. Não são – ou não parecem ser – opiniões; são – ou parecem ser – um reflexo objetivo do real. Por isso, segundo Sueli, eu preciso omiti-los "deliberadamente". Minha posição não pode conviver com eles, como o Super-Homem não pode conviver com a kriptonita. Samuel Aarão Reis repete igual procedimento, que é mais ou menos geral nesse debate, multiplicando os números como Cristo multiplicou os pães. Marco Frenette, embora os exponha menos, remete-se a eles como pano de fundo de toda a sua argumentação sobre como é o "Brasil real".

O fascínio de Sueli, Samuel e Marco pelo poder demonstrativo desses dados é muito comum entre pessoas que, independentemente de serem bem formadas em outras áreas, não conhecem estatística por dentro. Ignoram sua imensa maleabilidade. Os números, que tanto valorizam, em primeiro lugar são inconsistentes, seja pelos vícios presentes em sua construção, seja pelo mau uso que deles se faz. Em segundo, são irrelevantes para o tema em debate. Pois o conteúdo de verdade que revelam não permite a conclusão a que se chega. Vamos por partes.

Todos sabemos que o Brasil apresenta índices de concentração muito altos (foi este o objeto de um de meus artigos recentes em Caros Amigos). Podemos estimar, um pouco grosseiramente, que 1 por cento da população controla cerca de 50 por cento da renda e da riqueza. Todos também sabemos que esse ínfimo grupo dos muito ricos é basicamente formado por brancos. Logo, sempre que dividirmos nossa sociedade em "brancos" e "negros" (divisão muito imprecisa e confusa, quando se leva em conta a população como um todo), essa minoria de muito ricos puxará para cima todas as médias do primeiro grupo. O resultado final mostrará um subconjunto "branco" homogêneo e remediado, quando na realidade ele é imensamente heterogêneo e formado por uma clara maioria de pobres, cujos indicadores não são diferentes daqueles encontrados para as populações de outras cores. Médias devem ser usadas com muita prudência, pois às vezes escondem mais do que mostram e induzem a falsas conclusões. Para advertir os alunos sobre isso, é comum os professores de estatística repetirem uma velha brincadeira: "Se você colocar a cabeça dentro da geladeira e os pés dentro do forno, na média seu corpo terá uma temperatura muito agradável".

Em uma sociedade tão desigual como a nossa, é facílimo construir subgrupos cujos indicadores estatísticos estejam abaixo da média. Sueli, Samuel e Marco referem-se a subgrupos construídos a partir do critério da cor da pele. Note-se que o critério está presente antes de iniciar-se a pesquisa empírica, cujos objetivos – demonstrar o nosso racismo – foram estabelecidos de antemão. São eles que determinam quais números vão ser procurados (e, evidentemente, encontrados). Não é verdade, pois, que as conclusões decorram dos números; na verdade, elas geram os números que serão usados para sustentá-las. Sua produção é uma maneira de conceder bases empíricas a uma dada visão da sociedade. Na mesma busca por legitimar-se, enfoques diferentes podem encontrar – e, de fato, encontram – dados diferentes, simplesmente porque os procuram de forma diferente. Por isso, devemos sempre admitir que o pensamento comanda os números, e não o contrário, o que exige, neste como nos demais casos, manter acesa uma visão crítica sobre eles. Um pouco mais cínico e direto, Churchill dizia: "Só devemos acreditar em estatísticas que nós mesmos fabricamos". (Curiosamente, o esforço dos racistas europeus para "demonstrar objetivamente" a inferioridade dos negros também se baseou na fabricação de estatísticas. A mais recente tentativa nesse sentido foi o livro The Bell Curve, um grosso volume publicado nos Estados Unidos, cheio de números.)

Não estamos diante nem de provas irrefutáveis da "verdade" nem de manipulações geradoras de "mentira". Outros critérios, igualmente possíveis, gerariam outros subgrupos prejudicados na sociedade brasileira, sem relação com a questão racial. Nas regiões Norte e Nordeste (onde, excetuando-se Maranhão e Bahia, a presença negra não é muito significativa) estão os piores indicadores sociais do Brasil, que poderiam fazer a festa de quem quisesse falar de pobreza minimizando os problemas dos negros. Também poderíamos montar subgrupos fragilizados juntando dados, por exemplo, sobre moradores de municípios com menos de 10.000 habitantes, trabalhadores rurais sem terra, minifundistas de todo o país, desempregados e subempregados, idosos, migrantes, trabalhadores manuais de modo geral – e tantos outros grupos quantos a nossa imaginação conceber. Se o racismo fosse o motor da exclusão, apenas o recorte dado pela cor da pele geraria subgrupos desiguais, o que não acontece. A maioria de pobres no Sul é branca; no Centro-Oeste e no Norte, de ascendência indígena nítida e recente; na maior parte dos Estados nordestinos, também de ascendência indígena, porém mais misturada; no Rio de Janeiro, na Bahia e no Maranhão, é negra. Em todas as regiões encontramos todas as cores e, quase sempre, uma enorme mistura, que torna o critério da cor, além de indesejável, muito confuso.

A importância que meus interlocutores dão aos seus números contrasta fortemente com a forma imprecisa como os utilizam. Para Sueli, os negros são "45 por cento da população do país" (o que é claramente absurdo); para Marco Frenette, eles "oscilam entre 35 e 45 por cento", pois ele reconhece que tudo depende "da estatística e do critério da determinação de cor utilizados". Para Sueli, "65 por cento dos pobres e 70 por cento dos indigentes são pessoas negras"; para Samuel, entre as famílias com renda de até meio salário mínimo (onde estão, evidentemente, os pobres e indigentes), "30 por cento são negras". Em seguida, o próprio Samuel passa a referir-se a "negros e pardos", como se isso não alterasse completamente o universo abrangido. Pessoas que defendem as mesmas posições e usam as mesmas fontes apresentam números disparatados e incoerentes, e pretendem, com eles, fechar o debate.

Sueli e Samuel agregam remissões ao processo histórico de formação de nossa sociedade. Com mais razão em alguns casos (como na importante questão da escravidão), com menos em outros, com nenhuma em outros mais, defendem a política de cotas lembrando a antiga exclusão social, cultural e política dos negros. Mas, por que só dos negros, se essa exclusão é uma marca geral da nossa história e atinge a grande maioria dos brasileiros? Os povos indígenas, por exemplo, eram donos destas terras há milhares de anos e somavam pelo menos 10 milhões de indivíduos em 1500; hoje, são 300.000. Por que esquecê-los? Por causa da cor da pele? Quanto à restrição da participação política dos negros na República Velha, também citada por Sueli, basta lembrar que nessa época os brasileiros aptos a votar correspondiam a apenas 4 por cento da população total; durante muito tempo o voto no Brasil foi censitário, associado a determinada renda; além de todos os pobres, também todas as mulheres estavam excluídas desse direito até a década de 1930, por força de lei. Quanto à "falta de qualquer política de integração social da massa escrava ‘liberta’", é a mesma eterna falta de política de integração do povo brasileiro nos benefícios do desenvolvimento; no século 20, por exemplo, expulsamos do campo milhões de famílias, que, independentemente de sua cor, vieram (e continuam vindo) para as cidades também sem nenhuma compensação.

Se as cotas forem só para negros, é inescapável admitir que estamos adotando um critério racial, embora todos aceitem que, no caso da espécie humana, raças não existem. Se as cotas forem estendidas a todos os subgrupos igualmente prejudicados – único desdobramento lógico e coerente da proposta –, pior a emenda do que o soneto. Pois, assim agindo, o Brasil decretaria sua própria extinção, passando a reconhecer-se como um ajuntamento de grupos subnacionais, que podem ser recortados quase até o infinito. Abandonaríamos o conceito de povo brasileiro. Deixaríamos de ser uma nação. Sem projeto coletivo, seríamos facilmente expulsos da história. Voltarei a isso adiante.

É claro que a questão da cor, como muitas outras, agrega especificidades que precisam ser conhecidas, debatidas e trabalhadas em qualquer tentativa de descrição histórica e sociológica do Brasil. Porém, o considerável esforço feito nesse sentido nos últimos anos – que tem contado com fontes de financiamento externas bastante generosas, oriundas especialmente dos Estados Unidos – tem gerado, o mais das vezes, uma sociologia maniqueísta apoiada em estatísticas de má qualidade. No lugar do sistema capitalista, entram os "brancos"; no lugar da exploração do trabalho e das desigualdades sociais, entra uma "índole racista"; no lugar da dependência externa, fica o silêncio; no lugar de revolucionar a sociedade e as instituições, pedem-se cotas. Até a educação pública, universal e gratuita passa a ser considerada uma utopia inalcançável, sendo como tal, na prática, abandonada. Nenhum dos três artigos faz qualquer referência, direta ou indireta, às estruturas do capitalismo periférico e dependente, que são determinantes dos nossos grandes problemas (são essas estruturas, aliás, que explicam tanto a implantação como o prolongamento da escravidão em nosso passado).

Como pode esse pensamento apresentar-se como radical? A resposta é simples: pela construção de uma identidade reativa. Trata-se de um procedimento muito comum dentro da esquerda. Para nos diferenciar do mito do brasileiro pacífico e cordial, por exemplo, freqüentemente inventamos o contramito do brasileiro violento e sanguinário; respondemos ao mito do Brasil grande, caro ao regime militar, jogando fora o conceito de nação; o mito da ausência de racismo encontrou sua resposta no contramito de uma sociedade essencial e visceralmente racista. Constitui-se assim um olhar carregado de negatividade – pois as identidades reativas são, por definição, negativas. A negatividade, por sua vez, se apresenta como radicalidade.

Esse círculo de ferro interdita qualquer aproximação amorosa com o Brasil. Se elogiamos a mistura, somos hipócritas, pois, como diz Marco Frenette, estamos escondendo "emoções e sentimentos inconfessáveis"; se praticamos a convivência e nos misturamos de fato, ainda segundo Frenette, "é pela necessidade imposta pela vida miserável". Embora nenhum dos três autores tenha dito isso, já ouvi muitas vezes que a separação entre brancos e pretos nos Estados Unidos, muito mais nítida, mostra que lá as relações são mais honestas. Chegamos assim onde sempre nos leva o mundo dos pastiches ideológicos: o que é bom (neste caso, elogio e prática da mistura) é ruim (hipocrisia e necessidade), e o que é ruim (separação entre as pessoas) é bom (honestidade).

Dividir o Brasil em negros e brancos é um delírio, pois a grande maioria da nossa população não é uma coisa nem outra. Tratar brancos como privilegiados e opressores é um desrespeito a milhões de pessoas pobres e trabalhadoras. Negar o caráter essencialmente mestiço do nosso povo e da nossa cultura é uma cegueira. Todos os estudos demonstram que o povo brasileiro é o mais mestiço do mundo, constituído por uma infinita gradação de cores e tipos, sendo cada geração mais misturada que a anterior. Essa mestiçagem, além de constitutiva dos nossos corpos, está presente em nossa comida, nossa língua, nossas artes, nossas músicas e danças, nossas festas, nossas formas de religiosidade (inclusive a católica, de matriz ibérica mas cheia de sincretismo), nossa literatura, nossa identidade nacional, nossas maneiras de ver o mundo, nosso jeito de praticar esportes, nossas lendas e mitos. Tudo isso tem de ser esquecido, negado ou desmoralizado, pois as qualidades são o terreno da mistificação. O racismo foi provado com quantidades, números, e os números não mentem jamais. Mestiçagem é apenas discurso. Negritude é fato.

Nenhuma das duas é discurso, nenhuma é fato. Estamos diante de duas propostas para o Brasil, feitas aliás em um momento decisivo de nossa história. Forças muito poderosas, internas e externas, atuam ativamente para desconstruir a idéia de povo brasileiro, tendo em vista consolidar a posição do Brasil como um espaço de fluxos para o capital internacional. Para escapar desse destino, ainda temos alguns trunfos: um amplo espaço geográfico, recursos naturais abundantes, capacidade técnica, as indústrias que constituímos. Mas o trunfo decisivo, aquele que vai decidir nossa viabilidade ou inviabilidade histórica, é o grau de consciência que tivermos sobre a nossa identidade coletiva, a nossa especificidade e o nosso potencial humano. Pois isso é que nos permitirá afirmar que o Brasil tem sentido e pode ter um projeto, pelo qual vale a pena lutar.

Nesse contexto, é desastroso o ponto de vista explicitado no artigo de Samuel Aarão Reis. Aparecemos ali como um ajuntamento de alemães, poloneses, italianos e outros subgrupos expatriados, todos eles praticando aqui, lado a lado, suas culturas de origem, colocados na vizinhança de negros que desejam praticar sua cultura africana e são reprimidos. Não, Samuel, o Brasil não é isso. Aos trancos e barrancos, nós soubemos fazer um povo novo (e estamos tentando fazer uma nação) a partir dos grupos humanos que o capitalismo mercantil encontrou neste território ou transplantou para cá para constituir uma empresa colonial – na origem, índios destribalizados, brancos deseuropeizados e negros desafricanizados, depois gente do mundo inteiro. Um povo filho da modernidade, como tal aberto ao futuro, ao outro e ao novo. Um povo que ainda está no começo de sua própria história, e cuja identidade – por sua gênese e sua trajetória – não pode basear-se em raça, religião, vocação imperial, ódio aos outros ou vontade de isolar-se. Um povo que tem na cultura – uma cultura de síntese – sua única razão de existir.

O que confere sentido ao Brasil, cada vez mais, e o que torna necessário e bonito que lutemos por ele é essa experiência humana de constituição de um povo novo, que aqui está em curso, incompleta e ameaçada. A escravidão é uma enorme mancha do passado, e ela criou facilidades para que também aqui aparecessem o que chamei de elementos (ou traços, ou características, ou idéias) racistas, que não predominaram. Mas, paradoxalmente, o subproduto mais importante da escravidão do passado – a presença de uma significativa população negra como um dos nossos elementos constituintes – é uma enorme dádiva para nosso presente e nosso futuro. Sem essa presença, o Brasil seria muito menos bonito, menos alegre, menos interessante, menos cheio de potenciais. Somos livres para decidir entre, de um lado, remoer as mazelas daquele passado e permanecer presos às categorias ideológicas que ele criou, sendo as "raças" a principal delas, ou, de outro lado, transformar em uma grande promessa de futuro o encontro humano que aqui ocorreu. Nosso povo, tal como existe, nos abre a possibilidade da segunda opção.

Há muito o que fazer. Ninguém deve ficar quietinho, como diz maldosamente a professora Sueli. O grande êxito de constituir um povo onde havia grupos desenraizados foi acompanhado, até aqui, do grande fracasso de não conseguir fazer com que esse povo assuma o comando de sua nação e quebre as estruturas que perpetuam a desigualdade interna e a dependência externa. Eis o desafio. Que é de todos. Nenhum tipo de racismo é bem-vindo.

César Benjamin é autor de A Opção Brasileira (Rio de Janeiro, Editora Contraponto, nona edição, 21-2544-0206) e integra a coordenação nacional do Movimento Consulta Popular.


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