Já que o dia não está prá peixe...

Já que o dia está bem nublado, como diz um velho ditado, o mar não está para peixe... vamos de leitura... torturante leitura desse famigerado livro do Huxley...

 

A minha edição, que tenho aqui em mãos, é de 1999, é a 25a. edição, livro de bolso da Ed. Globo. Sério!! estou perseguindo a leitura por entender que é preciso ir mais fundo nas digressões de Huxley sobre uma sociedade baseada na técnica e na ciência, num mundo em que a produção em massa (fordismo) é uma realidade pulsante, até mesmo na criação de novos seres humanos (?), todos formados a partir de manipulações genéticas e de estímulos sensoriais para determinadas tarefas, daí o surgimento de castas, cada uma num grau único do sistema social da sociedade pensada por Huxley (uma futurística distópica e impossível sociedade). 

Pensando mais sobre a obra, percebi que o autor a escreve por volta dos anos 30, logo, num momento em que a vida passava por momentos tão assustadores quanto o que vivemos nos dias de hoje. Se lá em 1929 a quebra da bolsa de Nova Iorque (EUA) e o pós-guerra (I Grande Guerra) e também a Gripe Espanhola, que assolou o mundo naquele início de século. Huxley escreve justamente nesse contexto. 

Além disso tudo, a possibilidade de uma sociedade totalitária parece ser uma das preocupações do autor, veja que ainda não havia um Hitler no momento em que foi escrito o livro. Essa sociedade totalitária seria responsável pela oferta da felicidade aos seus cidadãos, quase uma imposição! Claro que essa felicidade é a que é definida pela casta mais alta de tal sociedade. A dita sociedade se baseia no condicionamento psicológico (ele cita Pavlov - ou o neopavlovismo -  no qual são gravadas ou condicionadas as respostas que devem ter cada tipo de casta. 

Assusta-me o fato de que o autor escreve numa época em que a manipulação genética ainda não existia (ao menos na prática) e muitas outras coisas que aparecem na obra são realmente ficções, ao menos naquele momento. 

Se o autor denuncia um condicionamento dos apetites sociais de forma dura em sua obra, o que notamos hoje é justamente esse tipo de condicionamento. Em alguns momentos me pergunto se o computador atual, com a Internet e os serviços como Google, por exemplo, podem até mesmo ler nosso pensamento... coisa sinistra. 

Há momentos em que apenas penso em alguma coisa que gostaria de comprar ou ler e, por milagre não sei de que tipo, surgem as janelas pop-up na tela do computador oferecendo aquilo que pensei. SINISTRO!!!

Estaríamos condicionados já a esse ponto? Tal qual pensou Huxley? Os coockies e robts da Web parecem percorrer as redes em busca de rastros que deixamos, os algoritmos leem nosso pensamento? Seria a Internet o SOMA pensado por Huxley? 

De tudo que escrevi aqui, pode-se perceber que a leitura parece que vai continuar... vamos ver o que nos reserva as próximas páginas do livro. Até aqui estou mesmo assombrado com o que estou lendo e, posso asseverar: num tempo em que as coisas são efêmeras, nada existe para durar, que as obras envelhecem muito rapidamente, especialmente quando se trata de ficção? Parece que Huxley ainda é bastante atual. 

Voltemos à leitura. 

Bração.

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