A REALIDADE DE UM SONHO (VII)


PRISÃO MARAVILHOSA

Dia 7 de março - domingo

“…Uns exilados de um lado da realidade
Outros reféns sem resgate da própria tensão…
Todos são excluídos na grande cidade”
(Malabaristas do Sinal Vermelho, João e Francisco Bosco)

Agora no carro somos três: à Cla e a mim se juntou a Pouly, rainha dos comentários lá no Penicilina, o Blog da Cla. Estou me acostumando às gentilezas do povo daquí: e também na casa da Pouly, mesmo sendo um “ilustre desconhecido” venho recebido como se eu fosse um velho amigo. E começo a aprender algumas diferenças…simples diferenças: como beijar o rosto das pessoas começando do lado contrário ao que estamos acostumados na Itália.
Também a Pouly parece uma pessoa legal: na verdade já sei que tem que ser legal, sendo amiga da Cla e lendo os famosos comentários. E não errei. Começamos assim um primeiro “tour” nos bairros Ipanema e Copacabana, só que no interior e não pelo litoral causa o trânsito do domingo. Assim eu sei que estou nestes bairros famosos mas não do lado mais conhecido, e desta coisa eu gosto muito. Vejo algumas boates famosas, hoteis, mercadinhos por gringos…Sim, justamente por gringos: lá eu poderia parar e comprar de tudo, como qualquer estrangeiro normal! A Cla me pergunta se eu quero sair, mas o que eu quero é tornar-me menos gringo possível e vamos sem parar. A Pouly é quem tem que parar (mas não no mercado: ela não é gringa!!) . Assim eis que a Cla estaciona e a Pouly sai por poucos minutos: eu saio também e fico de pé encostado na porta aberta do carro. A Cla não pede que eu entre no carro: ela dá uma ordem pra eu entrar! Eu entro e ela fecha tudo: me explica que é muito perigoso ficar como eu fiquei, de pé com porta aberta.
Estou sentado: que prisão é essa?? Não ser livre de estar encostado com portas abertas num dos mais elegantes bairros do Rio de Janeiro (e do mundo)? O outro vulto do Rio vem me se apresentando. Começo a pensar que Deus fez a mais maravilhosa cidade do mundo mas em compensação obrigou os seus habitantes a viver cercados pelo medo. Ou que o diabo espalhou o medo aquí mas em compensação escolheu o lugar mais lindo do mundo. Beleza e medo se juntam, Deus e o diabo, Paraíso e inferno.

GRANDUCATO DI TOSCANA

Saio do carro: diante de mim a Praia Vermelha e o Pão de Açúcar. Tudo isso é realidade: estou reparando que estou vivendo e não sonhando…Quantas vezes vi isso em cartão postal, vídeo, livros: meu Deus!! As minhas amigas são guias perfeitas: acho que elas têm penas de mim, do meu ar de sonhador. Ambas pegam as minhas mãos e feito duas irmãs me levam para ir no topo do morro. Melhor, dos morros: o que vejo do topo do Morro da Urca e do Pão de Açúcar não dá pra escrever.
Falando com as amigas eis que o assunto samba aparece. A Pouly dá lições de dança e que se acredite ou não, no berço do samba, na sua pátria reconhecida mundialmente, estes vão ser os únicos passos de samba que vou ver em doze dias cariocas.
Mas a coisa mais curiosa ainda há de vir. Estamos no topo do Pão de Açúcar tirando fotos. Há outros grupos que fazem a mesma coisa: um deles é italiano. Melhor, toscano. Me pedem em português se posso tirar fotos deles e eu respondo em italiano que não há problemas: são da província de Massa Carrara…Dez minutos depois estou sentado vendo o panorama. Ouço falar toscano mais uma vez. Uma mulher me informa que alí estão representadas as províncias de Pisa, Grosseto e Livorno: eu represento Pistoia, mais a de Massa Carrara do grupo de antes…metade das províncias toscanas estão alí.
Pão de Açúcar, Granducato di Toscana!

SONHO….

Estou comendo pizza: aos meus lados as minhas queridas amigas, nos meus olhos o Pão de Açúcar, nos meus ouvidos as canções de Mpb, a minha música. O cansaço começa a se fazer sentir. Ouço Cla e Pouly falar: não tudo o que elas falam eu consigo entender. Mas..parece que a Pouly vai me hospedar uma noite assim que o dia seguinte a Cla e eu podemos ir à praia mais cedo. Enquanto o sono começa a me fazer tornar quase um fantasma, penso ao que me aconteceu: a Cla, o Nêodo…e agora uma pessoa que não me conhece oferece de me hospedar uma noite na casa dela…uma pessoa que nunca me viu, ouviu antes e que não sabe nada, absolutamente nada de mim. Lá tem o Pão de Açúcar, a lua que se reflete na entrada da Guanabara, as lindas vozes das amigas, as lindas canções que eu tanto amo. Este não pode ser real, este è um verdadeiro sonho, uma ilusão: amanhã vou me acordar na minha cama e me levantar pra ir ao trabalho. Tudo que vivi hoje, só penso de ter vivido mas não é possível que seja real: não é possível….

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